Na década de 60, Paul
Goodman escrevia um de seus mais emblemáticos livros. O livro chamado Growing
Up Absurd. Após décadas como psicoterapeuta, e, principalmente, décadas como
professor de jovens e crianças, Goodman resolve iniciar claramente sua série de
ataques contra a desesperança da juventude americana.
Para Goodman, a crise vivida
pelos jovens da década de 60 era na verdade, por incrível que pareça, uma crise
no patriotismo. Goodman percebeu algo fundamental na juventude americana, o fato de que havia se tornado imoral ou prepotente sugerir um
discurso patriótico. O resultado dessa cisão foi claramente o movimento hippie,
que tentou a todo custo viver fora da cultura, e a delinquência juvenil que
queria destruir a cultura usando as próprias ferramentas sociais. Pelo menos,
esses movimentos ainda queriam ter uma história.
Porém, o grande problema da
crise do patriotismo era um erro fundamental: os jovens não conseguiam mais
distinguir o Sistema da Sociedade. Assim, culpavam a burocracia, a
mediocridade, a soberba e desigualdade como sendo os cavaleiros do apocalipse
que aparecem para destruir a vida e que a sociedade estava condenada ao seu
constante fracasso.
Quase 60 anos depois,
reencontramos o mesmo movimento em solos brasileiros. Hoje em dia, defender a
bandeira, o solo e a história brasileira virou um sentimento distante e por isso, é
imoral qualquer sentimento patriótico.
Goodman dizia que, o mais triste quando dava aula para adolescentes era que,
quando falava sobre Beethoven, sobre Spinoza, sobre Kant, sobre Platão, os
adolescentes olhavam para ele meio encantados e meio tristes, pois no fundo,
sentiam uma grande inveja dele ter uma história e eles não.
A crise do patriotismo é uma
crise da história. O sistema organizado nos fez crer que o Brasil é Dilma, o
Brasil é Collor, o Brasil é Lula, o Brasil é o preconceito, o Brasil é a Copa.
O Brasil não é um gigante que acordou ou dormiu, mas sim, o Brasil é cada marca
da historicidade, cada cheiro, cada sangue, cada vestígio de um passado de
lutas de classes e de raças, de submissão e destruição, de vitórias e
conquistas, de cada homem que destruiu sua comunidade, mas também todos aqueles
que a reergueram. Vestígios que nem o maior dos microscópios vai conseguir
captar essas marcas em nossos poros, pois eles são completamente virtuais. É o
sentimento de ter nascido e crescido em uma comunidade, que, junto com suas
grandes vitorias, mas também com seus maiores defeitos e vergonhas, fazem parte
daquilo que estava inscrito em mim muito antes de eu nascer. É aceitar que a “Sociedade
que eu vivo é minha” (nome de um dos principais livros de Paul Goodman)
É porque esquecemos que
temos um passado, que não vemos qualquer possibilidade de futuro. Quando
esquecemos que o mundo já foi diferente, acreditamos com todas as forças que
ele jamais vai mudar. E o que nos resta, é olhar para os jardins floridos dos
outros países, ou sentar e aguardar a próxima explosão que destruirá mais uma
parte de nossa paz.
Goodman ainda está a
espreita, mostrando e sussurrando aos ouvidos humanos que a crise da comunidade
é também uma crise da sexualidade e da criação, é uma crise da repressão daquilo
que somos e de como somos. Aqueles que se envergonham de sua brasilidade,
deveriam parar de gritar aos quatro cantos seu terror e buscar olhar para a sua
própria face envergonhada no espelho, que conta a história dos restos de um
passado vergonhoso que culmina em sua mais profunda subjetivação. Quer
destituir o Brasil? Faça primeiro um exercício de se destituir deitado em um
divã, face a face com um psicoterapeuta ou na respiração ofegante de um
exercício bioenergético.
Criticar o sistema é
necessário, procurar novas formas de relação são necessárias, construir pontes
para um mundo melhor é obrigação. Mas correr da própria história, do próprio
passado e da própria natureza, isso sim é vergonhoso!
Belo texto. Excelente reflexão.
ResponderExcluirObrigado!
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