domingo, 15 de abril de 2012

A teoria do self gestáltica: entre a fenomenologia e o pragmatismo

O livro Gestalt-terapia de Perls, Hefferline e Goodman de 1951 teve sua parte teórica construída a partir dos esboços teóricos de Fritz Perls relidos e aprimorados pelo escritor e crítico social Paul Goodman. O objetivo de Goodman foi apresentar, a partir das discussões iniciais de Perls, uma nova proposta de compreensão da natureza humana que integre a escola gestáltica e as teorias neo-psicanalíticas. Porém, como ferramenta crítica para essa análise, Goodman propôs uma integração da fenomenologia de Husserl e do Pragmatismo de John Dewey para recriar a concepção de self dentro da perspectiva da gestalt-terapia. O objetivo deste trabalho é apresentar o modo como Goodman vai interpretar a fenomenologia a partir de uma leitura pragmática para propor a noção de “sistema-self” como o sistema de contatos que se manifesta no campo organismo/ambiente. Sendo assim, essa leitura pragmatista da fenomenologia vai possibilitar dois pontos fundamentais: 1) ao invés de uma compreensão transcendental do ego (tal como proposto por Husserl), ele vai propor uma análise exaustiva das estruturas parciais do self, a saber o id, o ego e a personalidade. Estas estruturas parciais são entendidas como diferentes pontos de vista (ou perfis) para analisar a experiência, sem precisar recair em uma compreensão dicotômica ou psicologista. E 2) uma interpretação da ideia de contato já cunhada por Fritz Perls em seu livro anterior a partir da leitura fenomenológica da temporalidade. Sendo assim, o fenomenológico da abordagem gestáltica, nessa compreensão, não seria a construção de um método terapêutico, mas sim a base para se pensar a dinâmica do self e suas estruturas parciais. A partir da lente pragmática, há a desconstrução da busca pelo fundamento do conhecimento tão cara a Husserl para que se possa apreender a dinâmica constantemente transformadora da experiência humana e aplica-la ao campo da psicoterapia, da educação e da política. Como conclusão, acreditamos na pertinência dessa teoria, e que a teoria do self gestáltica, por mais que não tenha sido suficientemente reconhecida pela comunidade dos gestalt-terapeutas, pode ser uma ferramenta essencial para a construção da teoria e prática da abordagem gestáltica nos vários campo de atuação do psicólogo.

Este é o resumo do trabalho que será apresentado no EFHEP:
Encontro de Filosofia, História e Epistemologia da Psicologia
www.efhep.com
Será dia 19/04 no auditório A4 da UNIFOR!

Um comentário:

  1. Oi Marcus,
    Que bacana sua perspectiva de análise! De fato, não vejo sustentação na afirmação da fenomenologia como "método" de intervenção na GT, ainda que, indiscutivelmente, seja base da teoria do self!
    Tomara que a gente possa conversar mais sobre essa vinculação entre o pragmatismo e a fenomenologia, feita por Goodman!

    Abração,
    Diogo

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