quinta-feira, 27 de outubro de 2011

E na cidade virtual e sem lei, novamente o preconceito


Segundo os principais jornais, o cancelamento da prova do ENEM dos alunos no colégio Christus tem sido utilizado mais uma vez como fonte de xenofobia aos nordestinos. Mais uma vez a nossa região pede um posicionamento político, e esse posicionamento não é pedir às "autoridades" que nos defenda. Podemos criar leis que nos protejam, podemos criar normas que nos salvam e nos asseguram que aqueles que estão agindo com preconceito serão punidos. Porém, as redes sociais são a manifestação da nova calada da noite, os gatos são pardos em becos digitais e por isso, o preconceito pode sussurrar em aguas que os navegadores encontram o abismo do fim do mundo ou as serpentes marinhas. A internet alcança o inalcançável e se auto-regula a partir de leis que a moralidade não compreende. A lei quer alcançar a internet, mas ela sempre está um passo a frente. Precisamos aprender a nos reorganizar no campo digital, pois é no universo sem lei que a verdadeira política emerge. Não sei se a internet pede a delicada mudança da foto no perfil para protestar contra o abuso sexual, ou as correntes que juntam dinheiro. Pra mim, ela pede armas e tochas, fogo e agressão, tal como uma cidade pirata que se esconde no meio dos mares.
Temos falado sobre wallstreet, sobre a crise na Grécia. Temos falado sobre a transformação do ensino superior a partir do PROUNI, do FIES e do ENEM.  A queda do capitalismo parece cada vez mais próxima de acontecer, e os dois polos da moralidade se tornaram ídolos que a qualquer momento podem ruir: a política e a educação.
Talvez por isso esses pontos tenham sido os grandes focos do pensamento de Paul Goodman. Em “Drawing the Line Once Again”, Paul Goodman fala que lutamos pela liberdade, mas não sabemos o que fazer com ela. A liberdade é um conceito moralista, advindo do iluminismo mas tomando todo seu fôlego nas graças do capitalismo. Queremos ser livres pra que? Precisamos do nosso ancoramento congênito, como diria Merleau-Ponty,  e com isso ver a liberdade como uma mera construção metafísica (tal como nos disse Paul Goodman). Ao contrário disso, há a implicação, a orientação a partir do mundo, um mundo que nos ultrapassa.
Os filósofos cínicos, os cães  tal como Diógenes de Laércio, invadiam os espaços para falar verdades aos outros e procuravam garantir os espaços para o Parricídio, para dar lugar ao que nos escapa, ao estranho e ao desviante. Não seria a internet a atualização desse espaço? Somos confrontados com um novo meio de comunicação que invade nossas casas e não nos pede licença de como vai nos chocar. A internet é o espaço da virtualização, sem lei e sem forma já dada. Será que a revolução política não se esgueira por esses caminhos? Será que o anarquismo não já perpassa as vielas de um mundo sem chão? Será que no futuro vamos ver que todas as querelas políticas do primeiro mundo não escondiam um jogo muito mais marcante por detrás das telas dos computadores?
Por isso retomo a xenofobia. O preconceito que continua sendo abafado pelas leis e pelo estado, se pronuncia no baile de máscaras virtual. Na terra de ninguém, tudo pode se manifestar na magnitude que de fato existe. E aí, só quem pode construir uma ponte para a revolução é o próprio homem, sem pai, sem poder e sem certezas. Nós nordestinos temos construido nossa libertação, e temos um instrumento claro de voz, nem que seja pelas letras espalhadas nos espaços da cibercultura. Aqui posso manifestar claramente o meu repúdio pela xenofobia, pelo absurdo do preconceito e usar desse espaço pra chamar para a microrevolução. Goodman dizia que toda revolução tem que acontecer a partir dos pequenos grupos, para com isso crescer.
 E pra dizer que não falei de flores, vos convido: vamos cavalgar em rastros digitais e apontar o dedo na cara do preconceito. Vamos denunciar a pólis e rir e dançar na moralidade sombria e hipócrita. O nordeste tem todo o potencial para o mundo, fomos, somos e seremos.

Um comentário:

  1. Olá, vou colar aqui o que postei no facebook, afinal essa rede não serve só para receber o negativo, mas para manifestar os pensamentos...

    Quando alguma coisa desse tipo acontece, penso que até certo ponto entendo a indignação desses manifestantes. Afinal, são pessoas que devem ter se preparado para essa importante etapa da constituição de um sujeito que faz-se e refaz-se na sua busca de apropriação de quem é. Crescer traz responsabilidades que nem todos estão dispostos a investir. O povo nordestino, famoso pela seca e pobreza sustenta a dignidade de uma gente esforçada, batalhadora que supera a custa de muito esforço um espaço de destaque nas principais universidades e por que não dizer empregos no Brasil? Entendo que aceitar isso realmente pode ser difícil. Muitos que criticam o nordeste nem sequer conhecem, pois se conhecessem saberiam o quanto encantador, acolhedor e humano é o nosso povo! Não é a toa que quando conhecem se apaixonam! Esse preconceito manifesto, que muitas é velado parece nos transportar para lugares diferentes, enquanto que o que acontece é bem diferente: fazemos parte de um mesmo país! A luta deveria ser no sentido de somarmos força e reavaliar para o que ou quem de fato ‎"mereceria" essa atenção, no sentido de crescimento e melhoria para todos. Entendo as dificuldades enfrentadas pela grande maioria, senão por todos. Entendo que enquanto estudante de psicologia, procuro compreender o que se passa dentro de um contexto geral, observando a tudo e a todos de uma maneira igualitária e sem julgamentos. Mas não é necessário ser um estudante de psicologia para VER e SENTIR que tem algo nisso que soa destoante e que apresenta uma violência de "certa forma gratuita". Eu entendo, eu entendo, mas aceitar isso e compartilhar já é uma história BEM DIFERENTE...

    Alexandra Veras.

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