segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O nascimento de Eros

Diotima: Quando Afrodite nasceu, os deuses deram um banquete e, com ele, também Recurso, o filho da Esperteza. Quando então a refeição chegou ao fim, a Pobreza veio para esmolar no festim e ficou em pé à porta. Inebriado de néctar, Recurso havia entrado no jardim de Zeus e caído em profundo sono ali. Uma vez não entrava nem saía, Pobreza tomou a decisão de deixar que Recurso lhe gerasse um filho; assim, ela deitou-se a seu lado e concebeu Eros. E Eros tornou-se acompanhante e escudeiro de Afrodite pelo de haver sido gerado na festa de nascimento dela e de sua essência o impulsionar para o belo, pois Afrodite é bela. A Eros, enquanto filho de Recurso e Pobreza, ocorre sempre o seguinte: de um lado ele é sempre pobre, nada delicado e belo, como geralmente se pensa, mas duro e desgrenhado, descalço e sem morada: ele dorme o tempo todo sobre a terra sem coberta, pernoita diante da porta e na rua, ao ar livre; nisto ele é como sua mãe, e a carência habita sempre junto a ele. Porém, do pai ele tem o fato de sempre estar à espreita do belo e do bom, viril, ousado e persistente, como grande caçador, sempre tramando astúcias, um buscador do conhecimento e encontrador de caminhos, amando a sabedoria ao longo de sua vida, um feiticeiro poderoso, mestre da bruxaria e sofista. Ele não é como um imortal nem como um mortal: logo ele floresce e vive assim que encontra seu caminho, ao modo de seu pai, porém sempre de novo ele perde o caminho. Assim, Eros nunca é pobre e nunca é rico, também entre sabedoria e tolice ele está no meio. Isto acontece assim: nenhum deus é filósofo e deseja tornar-se sábio – ele já o é. Também quem, de outro modo, é sábio não aspira à sabedoria. Mas também tolos não praticam a sabedoria, também não querem tornar-se sábios. Justamente por isto a tolice é algo tão um, pois que, sem ser nobre e sensata, ela está satisfeita consigo. E quem aqui crê que não lhe falta nada também não almeja aquilo de que não se sente falta.

Sócrates: Quem então anseia pelo saber, Diotima, se não o fazem nem os sábios nem os tolos?

Diotima: Mas isto qualquer criança vê: os que estão no meio; e entre eles está também Eros: pois para o mais belo conta a sabedoria; e Eros é amor e impulso para o belo, de modo que Eros tem de ser filósofo e, enquanto filósofo, tem de estar entre sábios e tolos. Também isto é a herança de seus pais; pois ele provém de um pai sábio e engenhoso, porém de uma mãe que sempre está perdida e nunca é sábia.(O Banquete - Platão)

2 comentários:

  1. É maravilhoso esse trecho do diálogo, se não todo o Simphosium!

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