segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Gestalt-terapia em tempos de internet e política

Em tempos de política, não sinto vontade de discutir política. Volto para o assunto que vem me atormentando nos últimos 2 anos e meio: a virtualidade. Não sei mais se a problemática da psicoterapia é a questão de ressignificação de sentidos das nossas vivências, ou se na verdade, a psicoterapia é um espaço para o não-sentido, um lugar em que as coisas não precisam fazer sentido. Tenho acreditado que o nosso problema contemporâneo, ao contrário do homem moderno, não é a ausência de sentido da vida, como nos diria Viktor Frankl, mas sim o excesso. Somos diariamente bombardeados pelo excesso de sentido, pelo excesso de opções. A cultura de massa não nos dita mais regras (bons tempos aqueles!), agora, ela nos cria individualidades, objetos únicos feitos especialmente para nós. Temos a opção de escolher, escolher sobre tudo que diz respeito sobre a vida.
As mulheres gritam de socorro contra o imperativo libertário feminista que as colocaram como mulheres que trabalham, são independentes, mas ainda devem cuidar da casa e criar os filhos. Na verdade o trabalho dobrou! E agora? Os casamentos não precisam mais durar pra sempre, sabiam disso? Não somos mais prometidos, podemos escolher. A paixão e o amor são escolhas? Não sei, mas em tempos de internet, o mercado está lotado de produtos e mais produtos: escolha a cor do cabelo, a ocupação, a faixa salarial e o tipo de filme que ele ou ela gosta, e como num passe de mágica, um site de relacionamentos gera para você várias opções. Repito, várias opções.
Antes podíamos ser médicos, advogados ou engenheiros. Agora podemos ser engenheiros de telecomunicações, psicólogos, nutricionistas, gestores de RH, gestores de microempresas, gestores de hotéis, corretores de imóveis, dançarinos, matemáticos, físicos nucleares, educadores físicos, zootecnicistas e etc. Temos muitas possibilidades de escolher.
Quer resolver a famosa fase do “por que?” do seu filho? Coloque-o na frente de um computador, não se preocupe, o GOOGLE sabe mais do que você. Sua função de pai-que-sabe-tudo pode facilmente ser substituída pelo Google. Se você não sabe lidar com seu filho, não se preocupe, o Google também lhe ensina.
Estamos em época de eleição, e muitos comentam a revolução democrática que estamos vivendo. Isto porque, as discussões estão acirradas, as máscaras sendo tiradas e até a bolinha de papel jogada no Serra pode ser vista e revista no youtube. Maria Rita Kehl foi demitida, isto para muitos foi uma afronta! Ora, seu texto pode ser lido na integra em milhares de sites, o jornal que ela trabalhava está tendo que se rebolar pra dar conta de tantos ataques, será que realmente foi um absurdo ela ter sido demitida? O jornal que ela trabalhava tinha uma posição política, ela foi contra essa posição. No mundo do trabalho, quem não segue a linha só tem um caminho: rua. Quem ainda acredita que os jornais são espaço de liberdade de imprensa? Querem liberdade? Vão para a internet! Cada vez mais tenho acreditado na proposta de André Lemos e Pierre Levy de que vivemos o que eles chamam de ciberdemocraria. Esta eleição é fruto da ciberdemocracia. Nossas caixas de e-mail são enchidas com informações de todos os lugares, de todos os tipos e de várias fontes. A ciberdemocracia nos enche de sentido. Não podemos mais nos alienar. Temos que escolher o próximo presidente, e não podemos mais usar a desculpa de “falta de informação”. O problema da ciberdemocracia é que não sabemos quem ela atinge, talvez ela seja só mais uma pseudo-democracia elitista, que só esmaga mais o povo. Ganhamos até um novo desclassificado: o analfabeto digital.
Eis a crise do excesso, a nova crise da razão. Nosso cérebro precisa de um update para tanta informação, mas não se preocupem, em breve substituiremos nossa memória por um HD, e aí não poderemos esquecer nada! Nossos sonhos podem ser modelados, e podemos encomendá-los: “quero sonhar com minha casa de praia”! Já temos tecnologia suficiente para lidar com isso.
Vivemos um momento histórico que deve ser levado em consideração! Acredito que discutimos muito a política, mas não estamos discutindo o suficiente os meios que essa política tem se manifestado, pois o jogo está sendo primordialmente online. A quatro anos atrás, o modo como utilizávamos a internet, era bem diferente. O que mudou nestas eleições? Em tempos de política, nossa análise gestáltica deve voltar-se para a forma, o modo como a comunicação tem se estabelecido, ou seja, o modo como as pessoas tem se encontrado com o mundo.
Sendo assim, em tempos de política encontramos uma nova questão: a internet é uma nova democracia, ou finalmente houve a concretização do “grande irmão” que nos ensina como fazer e o que devemos fazer?
Conectar ou não conectar, eis a questão.

2 comentários:

  1. bom texto meu caro! vejo que vc avançou bem em sua pesquisa. gostei dos resultados. parabéns.
    de fato acredito que conectar ou não conectar é a questão. só não sei se é da internet mesmo que se trata. de um lado a internet conectou as pessoas ao debate político, mas tirou muita militância da rua. do povo na luta na rua.gostei do teu texto porque colocou bem os paradoxos do que está acontecendo. bom para pensar!até já!

    ResponderExcluir